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Clarabóia

Clarabóia

08.04.21

Fahrenheit 451 | Ray Bradbury


Raquel Patrício

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Lindo. Genial. Não há como descrever melhor esta pequena relíquia. 

Para amantes de literatura, "Fahrenheit 451" é um clássico intemporal. Já há imenso tempo que tinha vontade de o ler; por isso, achei que se enquadrava na perfeição no tema de abril do desafio da Rita da Nova, Uma Dúzia de Livros - um livro sobre livros. 

Montag, a personagem principal desta obra-prima, é um bombeiro. Contudo, os bombeiros não têm a missão de apagar fogos como conhecemos atualmente. A sua função é, paradoxalmente, queimar livros. Os livros são considerados proibidos, porque instigam ao pensamento - uma premissa um pouco semelhante ao famoso "1984". Quando conhece Clarisse, uma jovem de 17 anos, sua vizinha, Montag abre os horizontes do seu pensamento e começa a questiona o porquê das coisas: porquê que os livros são proibidos? Porquê que têm de ser queimados? Porquê que as pessoas têm conversas estúpidas, sem substância? Porquê que não agimos livremente?

- Deixar-te em paz? Muito bem, mas como é que eu fico em paz? Não precisamos que nos deixem em paz, mas antes que nos importunem de vez em quando. Há quanto tempo não te sentes mesmo importunada? Com algo importante, algo real?

O mundo em que Montag se insere está tão desligado da realidade que a população nem percebe que está em guerra com outros países e que as suas sobrevivências estão todas postas em risco. Os livros eram considerados confusos, com ideias erráticas e contraditórias, que geravam frustração pois não eram verdadeiramente esclarecedores mas sim filosóficos. Nesta civilização, não existia lugar para a subjetividade nem para o pensamento, apenas para a doutrina. Todos almejavam a felicidade instantânea, fácil. 

Lembre-se, porém, de que o comandante pertence ao inimigo mais perigoso da verdade e da liberdade: a manada maciça e inamovível da maioria. 

Uma distopia fascinante com passagens maravilhosas! Sem dúvida, que entrou para os meus favoritos de sempre. A minha edição tem um prefácio do Jaime Nogueira Pinto simplesmente sublime. Vou partilhar convosco um pequeno excerto:

Assim, em Fahrenheit 451, queimam-se livros porque os livros são perigosos e levam a pensar e a julgar criticamente, encerrando uum passado que pode denunciar, empalidecer ou pôr em causa o presente e sugerir outro futuro. No livro, os que deixaram de ler livros - como a vaporosa Mildred, mulher do protagonista - estão alienados pela televisão e por uma espécie de redes sociais tridimensionais que lhes fornecem famílias fictícias e lhes preenchem o dia-a-dia com companhias virtuais. Mildred é uma das muitas "toxicodependentes" das fábulas radiotelevisivas qe enformam a cultura oficial.

É preciso ser um génio para escrever um livro em 1953 e o mesmo estar tão atual, tantos anos depois. Recomendo a todos!

Avaliação: 10/10

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