Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Clarabóia

Clarabóia

24.09.23

Estás aí? | Dolly Alderton


Raquel Patrício

O romance "Estás aí?" (Dolly Alderton) é o segundo livro que leio, da autora, e já o tinha aqui parado praticamente desde que saiu (2021). Foi daqueles livros que me cativou desde a primeira página! Já em "Tudo o Que Sei Sobre o Amor" achei que a Dolly tinha um sentido de humor muito particular (podem ler a review aqui) e, nesta obra, voltei a ficar bastante rendida à sua escrita!

84F00379-BF4D-49B8-848B-29427EF56A0D.jpeg

Nina, após completar 32 anos, decide instalar uma aplicação de encontros pois sente-se preparada para conhecer alguém e voltar a ter um relacionamento sério. Acaba por conhecer um homem (Max) que parece que foi desenhado à sua medida e que a faz apaixonar-se perdidamente, voltar a sentir-se como uma adolescente. As coisas entre eles começam a avançar até que, imprevisivelmente, este suposto príncipe encantado desaparece (o famoso ghosting). O resto da história desenrola-se muito em torno de toda esta situação e dos restantes acontecimentos da sua vida, ou seja, como é que Nina lida com este desaparecimento enquanto tenta manter a sanidade mental. 

É mais fácil ficar de coração partido nos trinta, porque por mais doloroso que seja sabemos que vai passar. Já não acredito que outro ser humano tenha o poder de me destruir a vida. 

Adorei o livro! Primeiro, adoro a escrita da Dolly, acho-a super cativante, apelativa, fácil de ler, ao mesmo tempo que nos obriga a refletir sobre várias temáticas. Depois, penso que o livro é extremamente completo na quantidade de temas que aborda, analisando várias perspectivas de uma fase de vida que pode ser tão distinta para tantas pessoas da mesma idade. O livro tenta desmistificar a ideia de que os 30 são a idade em que já temos de ter a nossa vida toda resolvida, já devemos saber quais são os próximos passos a dar e que todos já devemos ter encontrado a nossa cara metade. Outra reflexão que "Estás aí?" me proporcionou foi sobre as minhas relações de amizade - como é que as amizades mais antigas e as pessoas com quem crescemos se tornam tão distantes e tão diferentes quando as nossas vidas já não estão alinhadas nos mesmos ciclos. Gostei bastante dos pensamentos da Nina acerca da sua amiga mais antiga e de como se tinham distanciado com o tempo, tudo porque a primeira ainda era solteira e a segunda já tinha a sua vida construída, com o segundo filho a caminho. 

Por fim, penso que o mais interessante foi concluir que, independentemente da fase de vida em que nos encontramos aos 30, achar que todos têm a sua vida bem resolvida e sabem perfeitamente o que estão a fazer, exceto nós, é uma ilusão. As dúvidas existenciais, as inseguranças, os nossos maiores medos não desaparecem quando ultrapassamos essa barreira invisível dos 30 anos. Solteiros, casados, com ou sem filhos - todos têm problemas, todos passam por dificuldades. O bonito é perceber que, nesta idade, já somos mais maduros para enfrentar qualquer problema sem achar que o mundo vai acabar e já aprendemos que vamo-nos sempre ter a nós próprios - e isso é suficiente. 

Muito do amor que sentimos por uma pessoa depende do vasto arquivo de memórias partilhadas a que acedemos só por olhar para o seu rosto ou ouvir-lhe a voz.

Se tivesse que resumir numa palavra sobre o que é este livro, diria, apenas: amor. Amor-próprio, amor pelos nossos amigos, amor pela nossa família, o amor que sentimos por voltar a apaixonar-nos, o amor por aqueles que nos amparam numa queda, o amor pela vida. 

Avaliação: 8/10