As Intermitências da Morte | José Saramago
No Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor, venho escrever-vos sobre o meu livro preferido, do meu escritor favorito de todos os tempos. O livro é "As Intermitências da Morte", de José Saramago. Este é um daqueles livros que já li cerca de 3 vezes, sublinhei frases, apontei as minhas passagens preferidas... não me consigo cansar dele e sei que ainda o lerei mais vezes!
Em primeiro lugar, convém falar da genialidade da escrita de José Saramago. Galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 1998 e com muitos outros prémios desde então, o escritor soma uma dezena de livros com histórias cativantes, que nos marcam pelos cenários improváveis que - quase sempre - colocam o ser humano em situações extremas e revelam os seus melhores (e, principalmente, os seus piores) atributos. Os livros de Saramago são repletos de ironia, sentido de humor e situações caricatas que nos incitam a pensar como se adaptaria o mundo àquele hipotético cenário. Além das histórias envolventes, a própria escrita é também singular, com a utilização de bastantes vírgulas e inserção do discurso direto no decorrer da narrativa.
"No dia seguinte ninguém morreu."
E assim começa este romance. A partir daqui desenrola-se a história num país onde, a partir de determinado dia, mais ninguém morre. A morte decide tirar férias. Inicialmente, esta ideia parece fenomenal. Contudo, logo desde o início percebemos que será mais um inferno do que um paraíso. Rapidamente, o maior sonho do ser humano passa a ser o seu pior pesadelo. Saramago, com a ironia e o sarcasmo característico, relata (e critica) as reações da sociedade e do governo, a posição da igreja, os negócios que entram em falência (como as agências funerárias e as seguradoras) e a própria vida dos "moribundos" - isto é, daquelas pessoas que já se encontram à beira da morte sem condições para ter uma vida digna mas que, subitamente, simplesmente também não podem morrer. A primeira parte do livro é uma crítica mais genérica à população em geral, na qual são abordados os aspetos práticos da ausência da morte, numa visão mais politizada e satírica.
Na segunda parte do romance, a história passa do pragmático para o emocional, do global para o particular, centrando-se essencialmente em duas personagens: a própria morte e um violoncelista que a morte nunca conseguiu matar. Nesta parte, a morte é personificada com emoções humanas - orgulhosa, arrogante, falível e... apaixonada. Por fim, a morte acaba por perceber que, ironicamente, tem que voltar a matar para salvar a Humanidade.
Nesta fantástica alegoria sobre a vida e a morte, também é introduzido subtilmente o tema da eutanásia e do suicídio assistido, na qual Saramago explica levemente a diferença entre matar e dar a morte, sem entrar em argumentos éticos ou morais.
"A morte, por si mesma, sozinha, sem qualquer ajuda externa, sempre matou muito menos que o homem."
Avaliação: 10/10