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Clarabóia

Clarabóia

25.03.21

Amor de Perdição | Camilo Castelo Branco


Raquel Patrício

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Bem, hoje vou trazer-vos uma opinião muito pouco popular. Confesso que até estou com algum receio de fazer esta review porque, efetivamente, não gostei do tão aclamado "Amor de Perdição", de Camilo Castelo Branco. Este é um daqueles romances clássicos da literatura portuguesa. Não nos podemos esquecer que a sua primeira edição foi lançada em 1862, há pouco mais de 150 anos. A escrita não é aquela que estamos habituados atualmente, a mentalidade é completamente diferente, assim como a própria cultura e costumes. Segundo consta, Camilo Castelo Branco escreveu este romance em 15 dias, aos 35 anos, enquanto estava na Cadeia da Relação do Porto, por uma acusação de adultério. 

A história narra-nos o romance proíbido de Simão Botelho e Teresa de Albuquerque, que se apaixonaram com 15 anos. As suas famílias odiavam-se, devido a uma quizila antiga. Por esse motivo, os seus pais eram contra esta união. Assim, os dois apaixonados vivem uma paixão tórrida (e platónica) um pelo outro, um amor proíbido que acaba em desgraça. Simão chega a ser preso por matar um pretendente de Teresa, afastando ainda mais estes dois jovens. 

Sinceramente, fui a única a não ficar fascinada com este livro? A escrita é arcaica, como seria de esperar. Não é fácil tirar o sentido da história porque numa frase de 10 palavras, 4-5 não conhecemos. É usado demasiado "floreado" para descrever coisas tão simples. Claro que tudo isto é característico da época e, por isso, volto a relembrar: o livro foi escrito em 1862. Contudo, apesar de ter isso em mente, não consegui de todo estabelecer qualquer ligação com a história e com as personagens. É tudo tão distante da nossa realidade que parece surreal. Um drama exagerado, lamechas, que de amor verdadeiro, o que tem? Na minha opinião, achei muito mais sincera a devoção que Mariana (uma personagem que aparece mais a meio do livro) tinha por Simão, do que propriamente entre Simão e Teresa. 

Estamos a falar de uma diferença geracional enorme. As mentalidades, os costumes, a cultura... eram completamente diferentes. Era um tempo onde os casamentos eram arranjados - não por sentimento, mas por interesses políticos e dinheiro; onde o papel das mulheres era secundário, não tinham vontade própria nem, diria-se, inteligência. Deixo-vos um excerto que, para mim, foi só surreal e cómico:

- Que seria de mim! - atalhou Simão. - A quem deixaria Mariana o seu nobre coração para me suavizar este martírio? Quem me levaria ao desterro uma palavra amiga, que me animasse a crer em Deus! Não há-de enlouquecer Mariana, porque eu sei que me estima, que me ama e que afrontará com coragem a maior desgraça, que ainda pode sugerir-me o inferno!

Mariana não podia enlouquecer porque amava Simão e tinha que cuidar dele enquanto este sofria de amores por outra mulher. As prioridades do homem eram as únicas que vigoravam; as necessidades das mulheres eram supérfulas. 

Acho que pelo facto das pessoas que me rodeiam, e de eu mesma, termos uma mentalidade tão diferente da que existia antigamente, não consegui mesmo estabelecer uma ligação com nada deste livro. Nem achei a história nada de surpreendente, para ser sincera. Prefiro livros que me toquem, que me ensinem algo, que me façam viajar da minha realidade e que me inspirem. Não consegui ter nada disto neste livro. 

Sei que é uma opinião controversa pois "Amor de Perdição" é um clássico da nossa literatura. Porém, a mim, não me fascinou.

E por aqui, quem já leu este livro? O que mais gostaram?

Avaliação: 3/10