A História de uma Serva | Margaret Atwood
Este foi o livro que entrou diretamente para o meu top de livros preferidos. "A História de uma Serva" é um livro fascinante, cativante e envolvente, que nos agarra desde a primeira página.
O enredo ocorre nos antigos Estados Unidos da América, agora denominados por Gileade, numa civilização em que as mulheres perderam todos os seus direitos. Após uma guerra instalada nos EUA contra o Estado Islâmico, alegadamente, o país decreta o fim da constituição temporariamente, os jornais foram censurados por uma questão de "segurança" e acabam por surgir novos deveres e obrigações, novas regras e leis para os seus cidadãos. As mulheres perdem todos os seus direitos e bens, o dinheiro deixa de existir e a leitura passa a ser proibida para as mulheres. As roupas utilizadas pelas mulheres são características do grupo social em que cada uma estiver inserida (por exemplo, o vermelho para as Servas, o verde para as Martas, o azul celeste para as Esposas...) e não podem ser reveladoras. O corpo deve ser tapado o máximo possível. Não podem existir ajuntamentos e as mulheres não devem comunicar entre si mais do que o estritamente essencial.
As mulheres passam a ser divididas por hierarquias: as Servas são mulheres jovens adultas, férteis, cuja função é gerar filhos aos homens da casa onde foram atribuídas; as Martas são as criadas que tratam da lida da casa, cozinham e fazem as limpezas (são mulheres mais velhas); as Esposas são mulheres (estéreis) dum estatudo mais elevado, cuja função será criar os filhos que as Servas tiverem. As Esposas são as mulheres dos Comandantes, os homens importantes de cada casa. Todas as mulheres infertéis ou que tenham sido consideradas promíscuas ou com um passado libertino, vão trabalhar para colónias ou são condenadas à morte.
O livro é narrado por Defred, uma serva que nos descreve todos os acontecimentos da sua nova vida, a formação a que foram submetidas, as lembranças da sua vida passada - o seu marido Luke e a sua filha de 5 anos, que lhe foi retirada.
Vão ter de me desculpar. Sou uma refugiada do passado e, à semelhança dos outros refugiados, percorro os hábitos e as maneiras de ser que deixei, ou fui obrigada a deixar, para trás, e tudo me parece igualmente pitoresco, visto daqui, e continuo igualmente obcecada por tudo.
O objetivo destas novas regras era que a população feminina percebesse que pertencia a uma comunidade, que existia um bem maior (neste caso, o aumento da natalidade) nas ações de cada um. Cada indivíduo tinha um objetivo específico que iria contribuir para a ascenção da nação. Porém, não existe liberdade, existe um silêncio opressivo imposto pelo medo (este silêncio é quase tangível na escrita, tão sublime de Margaret Atwood), não existe escolha nem opção.
É impressionante perceber que este livro já foi escrito em 1985, pois as semelhanças das descrições com a atualidade são assustadoras. É uma distopia muito atual, que nos cativa desde a primeira página. Quem é fã de George Orwell (1984) e de Aldous Huxley (Admirável Mundo Novo) vai adorar este livro, pois tem muitos traços em comum.
Como todos os historiadores bem sabem, o passado é uma grande escuridão, cheia de ecos. Podem chegar até nós vozes; mas aquilo que nos dizem está imbuído das trevas da matriz de onde vêm; e, por mais que tentemos, nem sempre conseguimos decifrá-las com exatidão à luz mais clara dos nossos dias.
O livro termina com um final em aberto, com várias possibilidades. Já estou ansiosa por ler a continuação - "Os Testamentos" - e fiquei bastante curiosa para ver a série!
E vocês, já leram este livro? Qual foi a vossa opinião?
Avaliação: 10/10